
Atravesso o Rio da Prata para uns dias em Montevidéu, capital desta simpática criação diplomática que dá pelo nome de Uruguay. A primeira cidade, a primeira igreja, a primeira escola, devem-se ao arrojo do homem português de Seiscentos (Colónia do Sacramento). Aqui mesmo estiveram estabelecidos os portugueses até que foram desalojados por D. Bruno Mauricio de Zavala,
Teniente General de los Reales Ejércitos, quem, no mesmo local, em 1724, oficialmente funda a cidade de
Montevideo. Vou a uma grande festa pelo centenário do colégio britânico. Simplesmente um espectáculo - o altíssimo nível, a organização, os mais pequenos detalhes. Resquícios de uma Inglaterra à antiga que teima em sobreviver na região
platense, na memória dos caminhos-de-ferro, dos
meat packers, dos
tramways, da electricidade, do comércio, das companhias de navegação. Coisas boas, com certeza. Mas cumpre referir - igual e infelizmente - a pérfida acção distribuída por igual entre adversários (Espanha) e "aliados" (Portugal). Do trabalho de sapa ao financiamento à subversão e à secessão, da difusão de ideologias dissolventes à pirataria e à intervenção directa,
Albion deixou males indeléveis - um deles é a maçonaria, cuja forte influência sente-se sem disfarces no Uruguay. Enfim... Soube que o antigo presidente Bordaberry, preso no início de 2006 por ter ousado - no início dos '70 - combater a Revolução e instituir um regime corporativo-católico, encontra-se doente, agora em prisão domiciliar. Enquanto isso antigos guerrilheiros, assaltantes e subversivos partilham gabinetes no palácio do governo. E, directamente da Pátria lusa, o grupo Pestana disputa um emblemático e senhorial hotel-casino e a Portucel ameaça com a construção de uma grande fábrica de pasta de papel. Assim vamos andando.