Visconde de Pelotas
Hoje em dia, face ao Portugal abrilescamente insignificante, custa acreditar que a terra lusa já produziu santos e heróis - ou, pelo menos, gente que não media sacrifícios para servir a Pátria. Como é hábito desta casa, de quando em vez saio a buscar algum testimónio desta "produção", especialmente por estas paragens mais meridionais da América do Sul. Há pouco encontrei um indivíduo com uma folha de serviço mais que interessante: trata-se de Patrício José Corrêa da Câmara, primeiro Visconde de Pelotas.
Portugal avança para o Sul com o objectivo de dominar a margem oriental do rio da Prata. Os conflitos bélicos intercalam-se com as negociações diplomáticas - e os dois, muitas vezes, desenvolvem-se em simultâneo. Os tratados de Madrid (1750) e Santo Ildefonso (1777) não lograram resolver a questão de fundo e o território português do Rio Grande de São Pedro (actual Rio Grande do Sul) encontrava-se consideravelmente reduzido.
Entre julho e dezembro de 1801 o então coronel Corrêa da Câmara, comandante da Fronteira de Rio Pardo, à cabeça de um regimento de quatrocentos homens, conquistou os povoados espanhóis de São Gabriel e Santa Tecla, arrasando pela segunda e definitiva vez o forte desta última praça. Da Santa Maria actual Corrêa da Câmara, em impressionante sucessão de ataques, derrota as tropas d'Espanha nas localidades de São Martinho, São Miguel, Santo Ângelo, São Luís Gonzaga, São Nicolau e São Lourenço, terminando por incorporar, manu militari e em carácter definitivo, os chamados Sete Povos das Missões Jesuíticas à corôa portuguesa.
Mas isso não é tudo. Com as tropas portuguesas nas proximidades do forte de Cerro Largo, o governador de Buenos Aires, Marquês de Sobremonte, envia para ali substanciais reforços e, convencido de estar em posição favorável, lança um ultimato de vinte e quatro horas para que os portugueses se retirassem da região. Ficou célebre a resposta do coronel português Manuel Marques de Souza, comandante da Fronteira do Rio Grande e futuro Marquês de Porto Alegre: "Nem em 24 horas nem em 2400 anos" conseguiriam desalojar os portugueses - e que tentassem para confirmar. A tensão é grande e as hostilidades podem começar a qualquer momento. Entretanto irrompe o temerário coronel Corrêa da Câmara com o seu regimento a mover a balança a favor de Portugal. O Marquês de Sobremonte - imagino-o a examinar o terreno e a correlação de forças através de sua lorgnette - decide a retirada das tropas espanholas. Exactamente aí ficou estabelecida a fronteira do que mais tarde viria a constituir o Brasil e o Uruguai, mesmo após a incorporação por parte de Portugal da Província Cisplatina e a sua posterior independentização como República Oriental.
Ao fim desta gesta Patrício José Corrêa da Câmara é ascendido a tenente-general e feito Visconde de Pelotas. Estamos no final de 1801, no reinado de D. Maria I e na regência do príncipe D. João. Ainda era a época de servir a Pátria, honrá-La, dilatá-La. Tivemos de esperar o último quartel do século XX para assistir à inversão destas práticas.
Portugal avança para o Sul com o objectivo de dominar a margem oriental do rio da Prata. Os conflitos bélicos intercalam-se com as negociações diplomáticas - e os dois, muitas vezes, desenvolvem-se em simultâneo. Os tratados de Madrid (1750) e Santo Ildefonso (1777) não lograram resolver a questão de fundo e o território português do Rio Grande de São Pedro (actual Rio Grande do Sul) encontrava-se consideravelmente reduzido.
Entre julho e dezembro de 1801 o então coronel Corrêa da Câmara, comandante da Fronteira de Rio Pardo, à cabeça de um regimento de quatrocentos homens, conquistou os povoados espanhóis de São Gabriel e Santa Tecla, arrasando pela segunda e definitiva vez o forte desta última praça. Da Santa Maria actual Corrêa da Câmara, em impressionante sucessão de ataques, derrota as tropas d'Espanha nas localidades de São Martinho, São Miguel, Santo Ângelo, São Luís Gonzaga, São Nicolau e São Lourenço, terminando por incorporar, manu militari e em carácter definitivo, os chamados Sete Povos das Missões Jesuíticas à corôa portuguesa.
Mas isso não é tudo. Com as tropas portuguesas nas proximidades do forte de Cerro Largo, o governador de Buenos Aires, Marquês de Sobremonte, envia para ali substanciais reforços e, convencido de estar em posição favorável, lança um ultimato de vinte e quatro horas para que os portugueses se retirassem da região. Ficou célebre a resposta do coronel português Manuel Marques de Souza, comandante da Fronteira do Rio Grande e futuro Marquês de Porto Alegre: "Nem em 24 horas nem em 2400 anos" conseguiriam desalojar os portugueses - e que tentassem para confirmar. A tensão é grande e as hostilidades podem começar a qualquer momento. Entretanto irrompe o temerário coronel Corrêa da Câmara com o seu regimento a mover a balança a favor de Portugal. O Marquês de Sobremonte - imagino-o a examinar o terreno e a correlação de forças através de sua lorgnette - decide a retirada das tropas espanholas. Exactamente aí ficou estabelecida a fronteira do que mais tarde viria a constituir o Brasil e o Uruguai, mesmo após a incorporação por parte de Portugal da Província Cisplatina e a sua posterior independentização como República Oriental.
Ao fim desta gesta Patrício José Corrêa da Câmara é ascendido a tenente-general e feito Visconde de Pelotas. Estamos no final de 1801, no reinado de D. Maria I e na regência do príncipe D. João. Ainda era a época de servir a Pátria, honrá-La, dilatá-La. Tivemos de esperar o último quartel do século XX para assistir à inversão destas práticas.
7 Comments:
Um episódio da Guerra das Laranjas. Do lado de cá foi o que se sabe...
Bom verbete, obrigado!
Pois é. Mas muita dessa boa gente, desse ânimo e dessa garra ficou pelas terras do Brasil, onde já ninguém liga a essas antiqualhas dos marquesados e dos viscondados. Deve ser essa seiva e essa "portugalidade à solta" que incrivelmente mantém a grandeza daquele país de doidos...
Exactamente, Caro Bic Laranja. Ficaram com Olivença e deram-se por contentes.
Obrigado e um forte abraço.
Cher Je Maintiendrai:
Por mais que tornou-se moda a desportugalização maciça do Brasil, ainda é a "seiva" lusa que ainda mantém a unidade daquele território.
Um abraço.
Amigo Euro- ultramarino: siempre es dolorosisima la evocación de las guerras entre hermanos......¡Confiemos que prospere la Alianza Peninsular que proponía el gran Antonio Sardinha......!
Grandes exemplos! Ainda bem que ainda há boa memória.
Se calhar, nesta época ingrata, resta-nos transmitir...
Um abraço.
Caro Çamorano:
Sim, é triste a guerra entre irmãos. Passada esta fase cumpre agora enfrentar juntos os inimigos da Civilização Cristã.
Caro JSM:
Recordar, dar testemunho - só mesmo os exemplos do passado para fazer vibrar os corações.
Um abraço a ambos.
Brava historia. Sou descendende to Visconde de Pelotas mas nao conhecia com detalhes a sua historia
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