Antípodas
No Largo do Carmo uns poucos passos bastam para saltar, qual passe de mágica, de um extremo ao outro do espectro de possibilidades do carácter humano, quer na sua dimensão individual como na colectiva. Caminhar das ruínas da Igreja levantada por D. Nuno Álvares Pereira à ala reconstruída do Mosteiro do Carmo, transformada em quartel republicano, e palco da rendição mal amanhada de Marcello Caetano, é experimentar a trágica queda no abismo. É passar de Atoleiros, Valverde e Aljubarrota, da defesa gloriosa da Pátria e da afirmação da sua independência, à traição, ao esfacelamento físico e moral da Nação. É o salto - mortal - da virtude ao vício; da honra à ignomínia; do dever de servir ao direito de servir-se; da abnegação ao serviço da Pátria à torpeza de negá-la; do sacrifício pessoal pelo Bem Comum na unidade ao egoísmo rancoroso e venal dos que atomizam os homens. Poucos metros separam uma era de Santos e Heróis de uma de malfeitores. Poucas pedras, gastas pelo tempo, testemunham a triste trajectória de Portugal e dos portugueses. Nos trinta e cinco anos da destruição física e espiritual de meu país, devidamente festejados por seus coveiros e abutres, prefiro fixar a mirada na canonização do Santo Condestável, modelo de Português, de Homem e de Cristão. Quero crer que a sua elevação oficial à santidade, neste exacto momento, é um sinal da Providência. Que São Nuno de Santa Maria, com seu exemplo e sua intervenção, galvanize os corações dos portugueses para a tarefa de restauração nacional que cumpre executar.
7 Comments:
Nem mais! O Carmo tem o melhor e o pior. Se Dom Nuno lá estivesse à 35 anos atrás, ia tudo ao som da espada.
Um abraço
*há
Não há dúvida Caro Afonso Miguel!Já vai a "Tribuna" para a coluna da direita.
Um abraço
Não há dúvida. A canonização de Nuno Álvares Pereira no primeiro nascer do sol que se segue à noite da traição não é pura coincidência.
Um abraço.
Tenhamos Fé, Caro Diogo.
Um abraço
Já dizia Rivarol: «nos povos, a civilização está tão perto da barbárie quanto o mais belo metal o está em relação à ferrugem».
Belo texto, querido amigo.
E neste frágil "equilíbrio" o que surpreende é justamente a "civilização", meu Querido FSantos. Obrigado e um abraço apertado.
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