Sunday, September 21, 2008

O "Vietname" argentino

Completando uma notável trilogia sobre a violência guerrilheira e terrorista que ensanguentou a Argentina, El Vietnam argentino, de Nicolás Márquez, analisa em profundidade a trajectória do ERP – Ejército Revolucionario del Pueblo, organização marxista que pretendia, a partir de uma acção “foquista” nos montes e matas da provincia de Tucumán, atear o fogo revolucionário por todo país. Confundindo os canaviais tucumanos com os arrozais indochineses a ideia era reproduzir no país um autêntico Vietname, segundo o mot d'ordre do próprio Che. Actuar para a consecução de tão nobre meta significou massacrar grande quantidade de inocentes: homens, mulheres e crianças. Tudo com insuperável sangue-frio – letra e espírito da tal “selectiva e fria máquina de matar”, na expressão do iluminado das t-shirts. E tudo levado a cabo por vários anos durante um governo eleito de acordo com todos os cânones democráticos – um governo “constitucional” como sói dizer-se. Num país (e num mundo) onde a esquerda derrotada na revolução armada é a vencedora na revolução cultural, a História é mutilada sem perdão. Desde 2003, neste reino perverso de faz-de-conta dirigido pelo casal Kirchner, a memória destes infelizes anos de chumbo tornou-se escandalosamente hemiplégica. El Vietnam argentino, assim como os trabalhos anteriores de Nicolás Márquez – La Otra Parte de la Verdad e La Mentira Oficial –, constituem leituras obrigatórias para todo aquele que deseja conhecer o como e – sobretudo – o porquê da guerra travada durante os '70 no país dos argentinos.

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