Haja panelas
A Argentina outra vez - quase - em pé de guerra. Sector ao mesmo tempo tradicionalista e modernizante, a agro-pecuária resolveu enfrentar o governo Bonnie & Clyde do casalinho Kirchner. A troco de quê? É que, para variar, os governantes populistas argentinos dão em expropriar o sector mais produtivo da economia para - dizem eles - fazer a "justa" distribuição do rendimento. Tendo como pano de fundo a subida extraordinária dos preços dos commodities dos anos recentes o governo soixante-huitard da multimilionária díada avança com a cantiga antioligárquica, ultrapassada e pestilenta, a qual podia ter algo de verdadeiro lá para os anos `30 - época da Argentina rica e culta, milagrosa e modelar, dos palácios franceses e das colecções de arte capazes de fazer inveja a europeus e estadounidenses. A realidade hodierna é bem outra. Noventa por cento dos agro-pecuaristas são pequenos e medianos propritários, que arriscam, investem e trabalham diariamente com as próprias mãos: pais, filhos e empregados a arrostar com todo tipo de dificuldades, naturais ou criadas pelo homens, i.e., pelo Estado. Responsável pelo milagre económico argentino de 1880-1910 e tábua de salvação nacional em todas as (incontáveis) crisis que se abateram sobre o país, especialmente a débâcle de 2001/2002, os agro-pecuaristas vêm sendo expropriados através das chamadas "retenções" à exportação. Estas consistem em puro e simples confisco de altíssima percentagem do valor das vendas externas. Incrementada no último dia 11 de março (É assim! Aqui também a História registará um "11 de março"!) as famigeradas retenciones já atingem 44% do valor da produção. Se a isso acrescentamos os demais impostos o sector vê-se obrigado a entregar ao Estado mais de 80% do que produzem. Com tais recursos a máfia (des)governante bonnieclydeana pode dar asas à demagogia e à compra despudorada de votos e favores em grande escala. Esta foi a fórmula kirchneriana para a construção e manutenção do seu poder pessoal - um regime corrupto, truculento e rasca. Pela primeira vez mobilizam-se os agro-pecuaristas de Norte a Sul do país, acompanhados de largas franjas da população, em manifestações contra a perseguição safada e demagógica ao campo e, igualmente, contra as patifarias inumeráveis e inenarráveis destes salafrários instalados na Casa Rosada desde 2003. Das montanhas áridas e coloridas de Jujuy à Tierra del Fuego ouvia-se um só "cacerolazo", a dilecta forma de protesto à argentina. À uma manifestação pacífica e civilizada no centro da cidade de Buenos Aires Kirchner enviou a sua tropa de choque do rebotalho, os temíveis piqueteros, com as suas caras patibulares, os seus tambores e bandeiras e, sobretudo, os seus porretes e correntes... É a "democracia" daqueles que enchem a boca com o vocábulo para esconder a verdadeira face de déspota funesto, que não veio para salvar mas para servir-se. As câmeras registaram algumas cenas de pugilato, de agressão, de dentes partidos, e gravou para a posteridade o dirigente piquetero favorito do casal Kirchner, um inqualificado energúmeno que no CV ostenta um assalto a uma esquadra, toma de reféns e invasão de propriedade privada - além da chefia de uma secretaria de Estado no governo Kirchner I, a golpear um cidadão que manifestava a favor da gente do campo. Pese os casos isolados de violência física, não permitiu a Providência Divina que o choque frontal de interesses - os legítimos e os escusos - escalasse ao estágio de guerra campal. Os dois lados permanecem irredutíveis; o daqueles que têm a força da razão e aqueles que contam com a razão da força. O ódio sectário continua a ser uma faceta da vida desta comunidade política que há muito dá claros sinais de dissolução. Os adeptos da teoría dos ciclos afirmam que a Argentina experimenta uma grave crise a período de sete anos. A última deu-se no fim de 2001. Já não há pachorra.
4 Comments:
La valía de un Estado se comprueba en como trata a los expropiados (Napoleón Bonaparte dixit)
De qualquer forma é curioso verificar a psique colectiva dos argentinos que vêm para as ruas quando as coisas não lhes agradam. Bem diferente desta passividade irritante dos brasileiros!
Así es Filomeno... Y, antes de todo, cuales son los fines de la expropriación?
Abr.
Caro C-M,
Concordo inteiramente consigo! Na Argentina ainda encontramos alguma reacção. No Brasil a absoluta passividade diante das mais ultrajantes barbaridades é tão absurda quanto incompreensível. Tem algo de "Animal Farm"...
Um abraço.
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