Neiges d´antan...
Enquanto suava no rigoroso inverno do patropi (32 graus) isto é o que perdia em Buenos Aires. Só espero não ter de esperar outros 89 anos para gozar esta maravilha da natureza. "Ó mar salgado, quanto do teu sal São lágrimas de Portugal!" - F. Pessoa
Enquanto suava no rigoroso inverno do patropi (32 graus) isto é o que perdia em Buenos Aires. Só espero não ter de esperar outros 89 anos para gozar esta maravilha da natureza.
Uma temporada em no Brasil foi suficiente para mostrar que este país tem hoje mais em comum com o Iraque, a Venezuela ou Cazaquistão do que com Portugal. Lêem-se jornais, liga-se a televisão, o rádio, conversa-se aqui, ali... e nada - Portugal sumiu do mapa. Simplesmente ignora-se a existência da Mãe-Pátria (para aí alguns muito sábios dizem "país-irmão", confundindo, se calhar, maternidade com fraternidade). Atirados às valetas do esquecimento estão os tempos não muito longínquos das grandes comemorações conjuntas, das edições de grandes e primorosos livros, das exposições, dos monumentos, dos tratados solenes que buscavam reconstruir algo da unidade que é filha do sangue e da História comuns. Interessa a alguém - de qualquer lado do Atlântico - a preservação da alma portuguesa do Brasil? Acaso excederá uma mão cheia aqueles que dão importância a esses lances da identidade e do património dos povos? Mas se Portugal é ignorado como regra, isso não impede que certas opiniões e juízos equivocados sejam propalados de quando em vez como excepção. Depois de um aviltante filme a ridicularizar D. João VI e D. Carlota, ouve-se já algum murmurinho relativo à "fuga" da família real portuguesa para o Brasil. No próximo ano completa-se o bi-centenário da transferência da corte, o que constitui uma excelente oportunidade para achincalhar um pouco mais a progénie - desporto (i.e., ischpórtchi) dilecto de um certo tipo de brasileiro. Eu, teimoso que sou, vou dando os meus murros em ponta de faca, na esperança de que a verdade histórica seja recuperada. Fuga? Não teria sido mais fácil, mais rápido e incomparavelmente mais cómodo para os Braganças buscar refúgio em Inglaterra? Para desmistificar este embuste cito aqui uma passagem da obra História Diplomática de Portugal (1997), de autoria do Emb. José Manuel Fragoso, onde apercebe-se claramente que a transferência do centro de poder lusitano correspondeu a um plano de Estado pensado havia muito.