Saturday, September 27, 2008

Quarenta anos sem Ele

2008, ano de datas redondas. 27 de abril marcou os oitenta anos da posse de Salazar como ministro das finanças. Hoje completam-se quarenta anos do seu afastamento da chefia do governo. Não posso e não quero deixar a data passar em branco. Bem disse Marcello Caetano ao substituir o Grande Homem, derrubado - e só mesmo assim! - por uma trombose: que depois de quatro décadas governados por um Homem de génio, os portugueses teriam de habituar-se ao governo de "homens como os outros". E assim foi - habituaram-se... Pois há quarenta anos rompia-se a barreira grandiosa que impedia a derrocada de Portugal. De uma era de grandes certezas passámos a um permanente estado de dúvida; da intransigência com a Verdade decidimos contemporizar com o erro; do dever sagrado de defesa dos nossos direitos preferimos oferecê-los em discussão com o mundo; da clara noção dos nossos interesses reais e permanentes optámos pelas modas enganosas e passageiras; do sacrifício para preservar o que é "nosso" saltámos animadamente à facilidade daquilo que é dos "outros". Portugal poderia (deveria?) ter sossobrado em 1926. Ou em 1928. Um fio de cabelo fino separava o país do abismo fatal. O triplo milagre da sua salvação, restauração e preservação deve-se, sem sombra de dúvida, à Providência. E o instrumento por Ela escolhido chamou-se António de Oliveira Salazar. A Obra foi realizada, o caminho seguro foi apontado, os pecados foram expiados. Mas os "homens como os outros" não estiveram à altura do Homem de génio e cinco anos e meio mais tarde, outros "homens", bem piores do que aqueles "outros", despedaçaram Portugal e atiraram os pedaços para o fundo do abismo - um abismo ainda mais fundo do que aquele de meio século antes. Lá vamos - alegremente - em franca dissolução. Pobres de nós.

Sunday, September 21, 2008

O "Vietname" argentino

Completando uma notável trilogia sobre a violência guerrilheira e terrorista que ensanguentou a Argentina, El Vietnam argentino, de Nicolás Márquez, analisa em profundidade a trajectória do ERP – Ejército Revolucionario del Pueblo, organização marxista que pretendia, a partir de uma acção “foquista” nos montes e matas da provincia de Tucumán, atear o fogo revolucionário por todo país. Confundindo os canaviais tucumanos com os arrozais indochineses a ideia era reproduzir no país um autêntico Vietname, segundo o mot d'ordre do próprio Che. Actuar para a consecução de tão nobre meta significou massacrar grande quantidade de inocentes: homens, mulheres e crianças. Tudo com insuperável sangue-frio – letra e espírito da tal “selectiva e fria máquina de matar”, na expressão do iluminado das t-shirts. E tudo levado a cabo por vários anos durante um governo eleito de acordo com todos os cânones democráticos – um governo “constitucional” como sói dizer-se. Num país (e num mundo) onde a esquerda derrotada na revolução armada é a vencedora na revolução cultural, a História é mutilada sem perdão. Desde 2003, neste reino perverso de faz-de-conta dirigido pelo casal Kirchner, a memória destes infelizes anos de chumbo tornou-se escandalosamente hemiplégica. El Vietnam argentino, assim como os trabalhos anteriores de Nicolás Márquez – La Otra Parte de la Verdad e La Mentira Oficial –, constituem leituras obrigatórias para todo aquele que deseja conhecer o como e – sobretudo – o porquê da guerra travada durante os '70 no país dos argentinos.

Wednesday, September 17, 2008

Aí vamos

Ontem vi um jacarandá que, impaciente, antecipava-se uns poucos dias ao início oficial da primavera. E hoje faz exactamente dois meses que não escrevo o que quer que seja neste espaço, embora esteja rigorosamente em dia com a leitura - sempre prazerosa e enriquecedora - dos blogs de eleição. Reabre-se, pois, o diário...