
A decadência dos povos é fenómeno que tem tanto de triste como de misterioso. País que apresenta uma excepcionalidad realmente assombrosa - a de ter saltado da riqueza à pobreza no mesmo curto espaço de tempo no qual havia entabulado o caminho inverso - a Argentina continua a dar provas de uma autêntica sanha auto-destruidora. Chego mesmo a perguntar-me se isto aqui realmente existe ou é uma ficção, uma ideia repetida à exaustão, um exercício de prestidigitação. Antigo celeiro planetário, solo e clima naturalmente magníficos para a agro-pecuária, o país nos seus tempos áureos contava com um rebanho bovino de setenta milhões de cabeças. Em meados da década de sessenta o
stock vê-se reduzido a cinquenta milhões. E nos últimos quarenta anos não cresceu mais... Aliás, o último ano (2008) regista uma perda de três milhões de animais. A agressividade
kirchnerista contra
o campo, demagógica e estúpida em doses verdadeiramente cavalares, explica parte mas não todo o problema - proibição de exportações de carne, tributação confiscatória nas operações cerealíferas, controlos discricionários e draconianos, desinsentivos de toda ordem, até mesmo ameaças de violência ao bom estilo
gangster. Terra privilegiada de carne, trigo e leite, a Argentina - pasmem! - será obrigada a importar carne, trigo e leite em 2009. Tudo em nome do povo, dos pobres, contra a
exclusão, como agora fica bem dizer. A demagogia e a corrupção do sistema dito democrático não deixam de surpreender: enchem a boca a falar nos pobres e cada vez há mais deles, enquanto brotam, tal geração espontânea, as fortunas bilionárias dos pulhíticos e respectivas clientelas. Mais uns numeritos esclarecedores: há 35 anos os 10% mais ricos ganhavam 8 vezes mais do que os 10% mais pobres. Hoje, depois de tanta democracia, esta tal democracia com a qual, na expressão do finado presidente Alfonsín, "come-se, educa-se, cura-se", os 10% mais ricos abocanham um pedacito 35 vezes maior do que recebem os 10% mais pobres. E há grandes conquistas: vastos bairros de lata, imensas legiões de desocupados, exércitos de esfomeados a vasculhar as lixeiras em busca de restos para aguentar um dia a mais. Tudo isso na terra da carne, do trigo, do leite... Uma escandaleira.