Thursday, December 20, 2007

Arquitectura porteña

Desconheço o quanto ainda vai durar o que resta deste magnífico Buenos Aires francês, testemunha do apogeu cultural e material deste enigmático país. Apenas na minha zona, em dois anos, foram demolidos vinte e cinco primorosos exemplares de petit-hôtel parisiense.

Wednesday, December 12, 2007

Santo Natal 2007

Um Santo Natal
Aos Amigos e a todos que por aqui passam

Lesca, o fascista irredutível


...et don Charles Lesca, fasciste irréductible autant que calme,
sous son grand chapeau chapeau américain.

Robert Brasillach, Notre avant guerre


Encontro com o escritor Jorge Asís, antigo secretário da cultura de Carlos Menem, ex-embaixador junto à Unesco, em Paris, e em Lisboa. Interessado por Portugal e pelas coisas portuguesas antes mesmo de assumir a embaixada, a estadia em nosso país foi o ensejo de aprofundar-se no tema e construir amizades e relações que perduram até ao dia de hoje. Vejo-o a terminar de ler o "Salazar" de Jaime Nogueira Pinto. Uma das facetas do estadista que mais admira foi a mestria na gestão das relações internacionais. Para o argentino a actuação de Salazar durante a II Grande Guerra, em múltiplas frentes, com o objectivo de preservar a neutralidade peninsular, foi simplesmente brilhante e deveria ser "case-study" em toda escola diplomática que se preza. Fiquei surpreso... E satisfeito. Será que há mais argentinos interessados nestes e noutros lances de nossa História, e tão actualizado em termos editoriais?

Mas tudo isso vem à propósito da obra "Lesca, el fascista irreductible". Trata-se da trajectória de Charles Lesca, ou Carlos Hipólito Saralegui Lesca, cidadão argentino de fortuna que, radicado em Paris, chega a disputar com Robert Brasillach a direcção do Je suis partout. Nas duzentas e vinte páginas desta interessantíssima mescla de relato e ensaio, Asís transporta-nos ao Paris da ocupação e conduz-nos pelos meandros da intelectualidade contrarevolucionária francesa - "collabo" ou não - e pelos focos de tensão ideológica dentro das mesmas hostes. Numa prosa atraente, ácida e estimulante, o autor faz-nos sentir na companhia de figuras como Céline, Rebatet, Drieu la Rochelle, Maurras, Bainville, etc. E também não nos deixa esquecer da volubilidade das massas e da hipocrisia dos vencedores que escrevem a "sua" história.

Defesa do consumidor

Exija sempre a original. Nada de imitações.

Falta muito pouco...

"O estupro de Europa" por Tiepolo. Cada vez que penso na famigerada União Europeia, nos seus acordos e tratados, nas suas directivas e comissários, nos seus disparates e embustes, vem-me à cabeça esta obra do veneziano. Hoje vi pela tv vinte e sete alegríssimos e moderníssimos governantes cravarem mais uma punhalada na Europa das Pátrias. A Rainha do Tejo deve estar um primor... Depois da cimeira "afro" com ladrões e assassinos, agora essa! Haja "espírito de Lisboa"!

Não toquem na minha Língua!

O regime da abrilada irrompeu dando cabo, numa assentada, de 95% de território secularmente português e de 500 anos de História. Tudo muito "exemplarmente", como vimos. Há mais de três décadas que o negócio anti-português é que está a dar. Dar, alienar, vender, transferir, deitar fora, etc., são os verbos preferidos da malta das amplas liberdades. Agora querem que a nossa Língua, um dos componentes identitários mais fundamentais e do pouco que nos resta depois da grandiosa gesta cravícola, deixe de ser portuguesa. Aqueles que desgovernam o torrão desejam que o idioma Pátrio passe a ser o brasilêru. Lavro aqui o meu protesto. Será que o ministro estrangeiro dos negócios portugueses ( genial expressão cunhada pelo Rodrigo Emílio) vai adiante com a ideia? Quanto a mim, vou continuar a escrever "director", "humidade" e "primogénito". Não é por ser o mais grandji, o mais maió e o mais milió do mundo que o Brasíu pode arrorgar-se o direito de impor a sua bastardia desregrada. Se esta submissão concretiza-se, qual será o próximo passo? Serão os portugueses obrigados a dizer pra mim fazê, deixa eu tchi pidji pra você, eu vi ela, me ajuda, eu lhe vi, se liga, tem gentchi na casa, etc.? Por amor de Deus, não. Deixem a nossa Língua em paz!

Monday, December 10, 2007

Aqui vamos

Depois da obrigatória e muy porteña pausa para o cortado e a mediluna tratemos de encetar a viagem de regresso.

Mais do mesmo

A partir de hoje eis a nova titular da presidência argentina. Indicada como sucessora pelo marido a Cristina-das-carteiras-do-Hermès é a alteração cosmética da governação dos últimos quatro anos. Aposto dobrado contra singelo que a diarquia kirchneriana está aí para ficar muito tempo: quatro anos com ela, depois quatro com ele, otros quatro com a madame, e assim sucesivamente... Nenhum presidente deste país conseguiu a proeza do Néstorcito: deixar o governo com muitíssimo mais poder do que quando começou. E estamos a falar de um poder verdadeiramente hegemónico. Vem aí mais do mesmo. Revanchismo setentista de guerrilheiros vencidos, corrupção com "c" maiúsculo, congelamento de tarifas, controlo de preços, manipulação de índices, impostos confiscatórios às exportações do sector mais produtivo e dinâmico - o agro-pecuário, uso do tesouro para premiar amigos e castigar adversários, acção governativa mediante decretos ("necessidade e urgência"...), câmara de deputados e senado quase decorativos, uso discriciónário e secreto de grande parcela do orçamento geral do Estado ("poderes especiais"...), ausência de segurança jurídica, falta de investimentos à séria, tolerância "100%" com a criminalidade, demagogia e populismo do mais rasca, etc. Com uma oposição imbecilmente fraccionada, a gastar a maior parte do tempo em brigas e disputas protagónicas, as duas únicas possibilidades de apeamento do arquimilionário e esquerdista casalinho são, no plano interno, um descontrolo inflacionista (possível); no front externo, uma forte queda nos preços dos commodities - leia-se: soja (difícil). Enfim, uma chatice.

Saudade

Às vezes a saudade aperta... e com muita força. Mas cá vou a viver o meu exílio - agora voluntário. Levei catorze anos para regressar ao Portugal irremediavelmente mutilado no seu corpo e na sua alma pela canalha abrilina. O choque foi grande, mezcla de tristeza, desespero e revolta. E sobreveio um desejo nada cristão de ajuste de contas, de vingança gelada. Após três meses de adaptação impossível decidi prosseguir como saltimbanco profissão exilado. A etapa seguinte foi a tentativa do corte cerce: eliminar do pensamento tudo relativo à Pátria desfigurada onde os seus verdugos pontificam alegremente num mar de passividade e impunidade. Com o passar dos anos - ie, com alguns cabelos brancos - dei-me conta de que minha alma portuguesa não muda. E não morre. É-me simplesmente impossível cortar os laços. Pessoas, lugares, lembranças, sensações, coisas, a História com o seu gigantesco ficheiro a registar o bom, o belo, o verdadeiro. Vivo da minha memória e dos meus sentimentos - exactamente aquilo que não me podem roubar. Lixem-se a canalha '74, seus sucessores e cia. Há muitas formas de servir Portugal e existem ainda muitos portugueses que o não são apenas no bilhete de identidade. Apesar de tudo (e este "tudo" não é nada pouco...) vale a pena. Com optimismo quase chestertoniano quero confiar que um dia o Portugal de sempre há-de ser restaurado.